Tendo o estado português apostado no final do século passado no fomento da investigação científica para a modernização do ensino superior em Portugal, apostou-se à época numa solução que se previa temporária: a criação de unidades de investigação associadas às universidades, que poderiam mais rapidamente e com financiamento validado por uma entidade central, a Fundação para a Ciência e Tecnologia, atrair investigadores formados noutros países. Os vínculos laborais eram maioritariamente temporários, já que se planeava a médio prazo integração dos investigadores nas universidades através de concursos de carreira docente ou de investigação. O facto é que isso raramente sucedeu, e se na docência existe hoje um número prejudicial, pelo excesso, de vínculos temporários, na investigação são raríssimos os vínculos de carreira, trabalhando muitas vezes estes investigadores em entidades externas à universidade, sem a possibilidade de participação na deliberação colectiva que é tradicional na academia.
Este estado de coisas, apesar de estar naturalizado, não beneficia a ninguém. Para a universidade é prejudicial, já que não se criam as escolas de pensamento necessárias para uma efectiva influência no debate científico global. E para os investigadores é claramente danosa a desigualdade em relação aos docentes, que apesar de tudo vão tendo acesso a concursos de carreira, mesmo que de uma forma limitado. Note-se ainda que para os académicos que terminaram o doutoramento na última década, frequentemente as posições de investigação eram a única opção: bastantes prefeririam ser docentes, ou ter mais responsabilidades de docência, especialmente em áreas científicas em que a separação entre investigação e docência é irrazoável.
Sendo a universidade mais antiga dos países de língua portuguesa, e cada vez mais uma referência para a academia brasileira, Coimbra tem uma responsabilidade muito especial na academia de língua portuguesa. Os últimos cinquenta anos trouxeram um progresso tremendo no ensino superior em Portugal, mas há que pensar lucidamente nos novos problemas que foram criados. Este encontro questionará o lugar futuro dos investigadores na Universidade de Coimbra:
– como se poderá passar rapidamente para uma relação mais equilibrada entre posições de carreira e posições temporárias, especialmente na investigação, de modo a aumentar a durabilidade da investigação rigorosa e coerente na Universidade de Coimbra?
– como se poderá esbater a distinção entre posições de docência e de investigação, especialmente nos campos em que tal distinção é prejudicial, evitando a “corrida para o fundo” a que assistimos actualmente ao se desvalorizar a docência, tarefa essencial da universidade?
como se poderá eliminar o legado de entidades externas à universidade, que não serviu o seu objectivo explícito (integrar doutorados noutros países nas universidades portuguesas), e que possibilitam de facto um regime laboral (e académico) dual, integrando-se tais unidades privadas na universidade pública, passando a departamentos ou mesmo a unidades orgânicas, consoante a sua dimensão?
ENCONTRO
O lugar dAS/OS investigadorAS/ES na Universidade de Coimbra
6 DE FEVEREIRO DE 2019
17H30