Os últimos anos foram particularmente penosos para a área da Investigação Científica, sendo paradigmático a política de corte da Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT), que se veio a manifestar no processo de avaliação das de Unidades de Investigação e Desenvolvimento, bem como no número de bolsas para formação avançada.
A política científica conduzida sobre o epitoma “excelência” veio a realçar uma série de problemas de um sistema que possuía já de si vários problemas, com a questão da precariedade como elemento paradigmático e fulcral para todo o sistema. Na verdade a “excelência” serviu como argumento para acentuar uma divisão entre “bons” e “maus”, com domínio cada vez mais avassalador das métricas, conduzindo a um desequilíbrio do sistema, que se tornar hoje em dia problemático mesmo para áreas que parecem privilegiar do mesmo, como sejam as das Ciências da Vida, dada o prerrogativa que foi dada à investigação aplicada sobre a investigação fundamental.
Hoje em dia, as instituições de Ensino Superior e Ciência estão afogadas num discurso de aplicabilidade e rentabilidade que coloca sérios desafios à própria criação científica.
A disseminação da figura do bolseiro atingiu níveis impensáveis, com a contratação de pessoal para funções menos qualificadas a ser garantida pelo recurso a esta figura, demonstrando o grau de depauperização das instituições.
A Carreira de Investigação Científica serve hoje de enquadramento a poucos, sendo que existem um corpo de investigadores, com capacidades e formação avançada, que se encontra preso às figuras precárias dos contratos Ciência e bolsas de pós-doutoramento. Esta forma de gestão do pessoal de investigação leva a que o país tenha pouca resiliência aos momentos de crise, sendo por isso facilmente afetado pelos processos de migração de escala global, num processo que tem vindo a gerar um sério défice. A “fuga de cérebros” a que Portugal tem assistido, penaliza de formas variadas o país, quer em termos socio-económicos, com a penalização de uma visão pessimista e amargurada em relação ao próprio país, penalizadora das relações familiares, que significa também investimento perdido e que é aproveitado por outros países, acentuando assim processos de desigualdade que penalizam com particular incidência os países periféricos.
Sendo a Ciência um campo no qual o investimento era considerado consensual e onde o país havia feito desenvolvimentos notáveis nos últimos anos, assiste-se agora a becos e caminhos tortuosos, num quadro em que os investigadores passaram muitas vezes à figura de verdadeiros caixeiros-viajantes/angariadores de financiamento, aguilhoados pela sua situação precária em que são continuamente obrigados a novas candidaturas como forma de manter o seu posto de trabalho, colocados perante diversos deveres, poucos direitos, perante instituições que procuram lucrar com esta situação, seja em termos de prestígio, ou produção científica, seja mesmo como forma de compensar desequilíbrios financeiros.
Esta situação de precariedade conduz também a problemas na sindicalização e participação em processos de reivindicação, governação e diálogo social, em articulação com os Colegas, criando-se por vezes falsas tensões.
É, por isso, fundamental pensar sobre a política de investigação científica, na sua articulação com o Ensino Superior, debatendo também a ligação com os processos de governação, a inovação, sem ignorar obviamente o desenvolvimento económico, mas não restringindo a este o propósito da investigação.
A Comissão Organizadora do V Congresso do SNESup